quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Novelas de cavalaria - BRUMAS DE AVALON

ANÁLISE CRÍTICA DO FILME AS BRUMAS DE AVALON


ANÁLISE CRÍTICA DO FILME “AS BRUMAS DE AVALON”[1]
Hernani Gomes Farias da Silva Júnior[2]
Hindemburg Henrique Tamiarana2
Shéllida de Araújo Dias2


Sinopse do Filme: O filme “As Brumas de Avalon” é uma adaptação da obra homônima de Marion Zimmer Bradley que foi escrita em quatro volumes. A história se passa por volta do século V e tem por objetivo narrar a já conhecida lenda do Rei Arthur e seus cavaleiros a partir de uma perspectiva feminina, o que acaba resultando em uma reelaboração do universo mítico da trama. 
Direção: Uli Edel


Ficção que mostra um intenso conflito existencial por parte dos personagens, “As Brumas de Avalon” é um filme que narra o avanço do cristianismo (que estava começando a ganhar terreno) e o início da extinção do paganismo. Nesse cenário, há um temor, por parte dos que cultuavam a velha tradição, de que houvesse o desaparecimento do templo sagrado de Avalon - única possibilidade de levar à frente a linhagem da Deusa.
Morgana, protagonista e narradora da história, vive um forte drama que, muitas vezes, se confunde com sua própria vontade: ora percebe-se em um universo fantástico de magia do qual a sua essência faz parte, ora sua mente é composta pelos costumes cristãos que começam a imperar. Nesse contexto, surge Arthur como um grande guerreiro pois, segundo as palavras de Morgana, “se um grande líder não unisse cristãos e os seguidores da Deusa, a Bretanha estaria condenada ao barbarismo e Avalon iria desaparecer”.
Arthur e Morgana foram levados de sua mãe ainda crianças: ele seria treinado, por Merlin, para ser um grande guerreiro e ela, (treinada por Viviane) para ser a substituta da Grande-Sacerdotisa de Avalon. Os dois cresceram e se encontraram no ritual de Beltame. Ali, tiveram uma relação sexual sem saber que eram irmãos (pois os dois estavam mascarados para esconder a sua verdadeira identidade). Isso os tornariam iniciados na tradição. Como resultado dessa copulação, nasce Mordred.
Mordred, filho de Morgana e de seu meio irmão Arthur, poderia resgatar a paz do sul da Grã-Bretanha e unir as tradições religiosas. Esse era o propósito de Viviane, quando decidiu que Morgana deveria dar à luz um filho de Arthur, que teria a mesma linhagem da Grande Deusa, pela forte união do sangue de dois grandes guardiões. Mas Mordred, influenciado por Morgause, se rebela contra o próprio pai – o rei Arthur.
Infelizmente, a trama termina em tragédia: o filho (Mordred) mata o pai (Arthur) e vice-versa.
Quando Morgana levou Arthur, ferido, até Avalon, para que ele sobrevivesse, percebeu que aquele templo já havia desaparecido; entretanto, sempre esteve presente em seu coração, mesmo naquele momento em que  ele se fechava para ela: “Embora Avalon tivesse me rejeitado, senti seu poder quando o rei e eu chegamos às margens sagradas. Comecei a duvidar que chegaria a Avalon. Talvez, pela desobediência, ficaríamos perdidos nas brumas. Ou talvez, com a morte de Viviane, ele tivesse desaparecido”.
Com a morte de Arthur e o avanço do Cristianismo, a antiga religião da Deusa foi substituída e, como consequência, os fieis cristãos adaptaram a figura da Deusa pagã à figura da Virgem Maria, mãe de Jesus Cristo. Segundo Morgana, “Avalon desapareceu do mundo dos homens e apenas Glastonbury (templo cristão) marca o local onde ele esteve. Os saxões se espalharam pela Bretanha e a tornaram sua e a Deusa foi esquecida. Ou assim pensei por muitos anos. Até perceber que a Deusa havia sobrevivido. Ela não foi destruída, apenas adotou outra encarnação. E talvez um dia as gerações futuras poderão fazer com que volte a ser como a conhecíamos na glória de Avalon”.
Um dos aspectos mais chamativos em “A Brumas de Avalon” é o Culto da Grande Deusa. Segundo pesquisadores, esse culto teve seu início nos primórdios da humanidade, quando os primeiros homens cultuavam a Deusa Gaia, que era representada pela natureza.
Durante o período Neolítico, a mulher tinha um papel de prestígio - ela era a “representação” da Deusa Gaia, pois possuía o poder de gerar vida.
O culto da Terra Mãe evoluiu para o culto da Deusa Mãe por volta de 4000 a.C, tendo a Deusa Mãe continuado a ser vista como símbolo de fecundidade, de fertilidade.
A Deusa Mãe, durante muito tempo reinou sozinha, única, mas passados os anos, ela recebeu várias funções e foi associada com um jovem deus que assumiu o papel de Filho Amante. Foi a partir dessa associação que, em algumas culturas, originou-se o ritual do hieròs - gamos ou casamento sagrado.
As representações terrenas do hieròs - gamos recebiam o nome de “prostituição sagrada” - costume que consistia em um ritual onde toda jovem púbere oferecia à Deusa sua virgindade: “Como prostituta, sentava – se à espera de um estranho que lhe fizesse uma oferenda em dinheiro e, fosse qual fosse a quantia, ela aceitava, cumprindo o sagrado ritual do amor. Só após essa oferenda à Deusa a jovem era considerada virgem...” (BARROS, 2004: 29).
Esse ritual pode ser verificado, no filme em análise, na cena em que Morgana consuma uma relação sexual com Arthur durante a festividade de Beltame. Na História, por sua vez, podemos ver que o hieròs - gamos teve não só teve um sentido religioso, mas também político.
O enredo do filme em análise apresenta, também, vasta simbologia. Exemplifiquemos com:

1. As brumasque representam um período de incerteza bem perceptível na metáfora alegorizada do título, onde há a sugestão de um período de transição do paganismo para o Cristianismo; do fim de uma cultura matriarcal e o surgimento do patriarcalismo.
2. A Festa de Beltameritual pagão em comemoração ao fim do inverno. Ocorria no 1º dia de verão, mas agraciava, também, a chegada da primavera. Era conhecido como “Ritual de Fertilidade”.
3. luasímbolo do feminino. Sua fase minguante representa o poder da mulher.

Enfim, o  filme “As  Brumas  de  Avalon”  é  emocionante  e  recomendado  para aqueles que desejam saber mais sobre o ciclo bretão e/ou a história da mulher.


REFERÊNCIAS:
BARROS, Maria Nazareth Alvim de. As Deusas, as Bruxas e a Igreja: Séculos de Perseguição. RJ: Rosa dos Tempos, 2004.

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